Um agricultor de 34 anos foi detido, na passada quarta-feira, pela GNR de Celorico da Beira, por conduzir sob o efeito de álcool. O veículo era um burro com uma carroça atrelada, tendo o condutor acusado 2,84 g/l no teste efectuado pelos militares, conta o «Correio da Manhã».
Jorge Rodrigues foi libertado e presente ao tribunal local. Vai ser julgado brevemente. O artigo do Código Penal que pune a condução sob o efeito de álcool não é explícito quanto a casos de condutores de veículos com tracção animal.
Fonte: Correio da Manhã; DN
Agricultor conduzia carroça embriagado. Foi detido pela GNR e o burro ficou à beira da estrada preso a uma árvore.
Nos Salgueirais, uma pequena aldeia do concelho de Celorico da Beira, correu célere a detenção de Jorge Rodrigues, apanhado a conduzir uma carroça atrelada por um burro, com uma taxa de álcool de 2,84. Foi a segunda vez que tal aconteceu, mas nem as circunstâncias nem a elevada taxa causaram estranheza no povo. Afinal, “passa os dias a beber até cair”.
Jorge, de 34 anos, foi apanhado na quarta-feira à noite, em Celorico, quando regressava a Salgueirais. “Mandaram-me parar e soprar ao balão”, conta. Perante a elevada taxa de alcoolemia, foi conduzido ao posto da GNR enquanto o burro ficou à beira da estrada, “preso por um baraço [corda] a uma árvore”, afiança Jorge.
Como em Celorico da Beira a GNR não dispõe de um aparelho para fazer a contraprova, Jorge foi levado à GNR da Guarda onde foram confirmados os 2,84 g/l de taxa de álcool. Ficou detido e na quinta-feira foi levado ao Tribunal de Celorico da Beira de onde foi mandado em liberdade até à realização do julgamento.
Foi buscar o burro e voltou à vida de sempre, na companhia da mulher, de 54 anos, Conceição. Jorge “não sabe ler nem escrever” e de leis “pouco percebe”. Mas sabe que “esta foi a segunda vez” que foi apanhado a conduzir a carroça embriagado.
Mas na aldeia todos se lembram. “Foi há um mês quando ia pela estrada, bêbado e provocou um acidente”, diz Diogo Cardoso. Jorge é bem conhecido. Pelas piores razões. Ele e a mulher “embebedam-se e só fazem disparates”, revela o ancião. Ao lado, Paulo Francisco acena, em concordância. Jorge nasceu na Velosa, uma aldeia do outro lado da serra e foi viver para os Salgueirais “com uma mulher mais velha que ficou viúva e tem uma pequena pensão”, adianta Paulo Francisco. Conceição “tem problemas de álcool e os filhos já por duas vezes a levaram para tratamento, mas quando sai do hospital cai nas mãos deste patife e passam a vida nisto”, atira Diogo. Na aldeia a notícia da detenção “só trouxe alegria”. É que o casal “são uns pilha-galinhas. Deitam a mão a tudo quanto podem”.
Pedro Santos que o diga. “Uma ocasião vim a casa e vou dar com ele deitado na minha cama. Veio para roubar e adormeceu…” O casal “não trabalha e deita a mão a tudo quanto arrebanha”, conclui.
Para o povo, o problema são os animais. “Têm uma cadela que é pele e osso. Passa os dias sem comer e o burro leva cada enxerto de porrada que mete dó. E, quando andam nas tabernas, o animal fica ao deus-dará”, diz Deolinda, outra vizinha, para quem o casal “precisa de ajuda. De manhã à noite bebem e depois ficam em casa a curar a tolada [bebedeira]. Às vezes ficam vários dias sem saírem de casa”, desabafa.
Queixas que não atemorizam Jorge Rodrigues, que ontem já andava estrada fora com a sua carroça. Nem o tribunal o amedronta. “Não penso largar o vinho. Posso deixar de conduzir o burro, mas o vinho não deixo”.